No filme Jurassic Park, os dinossauros eram ressuscitados a partir de amostras de ADN. Agora, a ficção científica está mais próxima da realidade. Uma equipa de cientistas armazenou o ADN humano completo num cristal 5D, o que pode ser o caminho para nos trazer de volta depois… de sermos extintos.
Como será o armazenamento do futuro?
Cientistas britânicos da Universidade de Southampton fizeram uma descoberta revolucionária ao conseguirem armazenar informações de ADN humano completo num cristal 5D, um avanço que pode transformar a forma como preservamos dados genéticos e abrir portas para a restauração da humanidade em caso de extinção.
Através da utilização de lasers ultrarrápidos, a equipa conseguiu inscrever a informação genética no cristal, o que, segundo os investigadores, tem a capacidade de durar biliões de anos sem se degradar, mesmo quando sujeito a condições extremas.
O cristal 5D, também conhecido como “cristal de memória“, foi desenvolvido pela equipa do Optoelectronics Research Centre (ORC) da Universidade de Southampton. É composto por material semelhante ao quartzo fundido, considerado um dos materiais mais resistentes tanto quimicamente como termicamente.
De acordo com a equipa, o cristal é capaz de suportar forças imensas, temperaturas extremas e até mesmo exposição à radiação cósmica, tornando-o uma das formas mais duráveis de armazenamento de informação já conhecidas.
A designação “5D” refere-se ao processo de codificação usado pelos cientistas, que aproveita duas dimensões óticas e três coordenadas espaciais para inscrever os dados no material.
Este processo vai além das técnicas tradicionais de armazenamento de dados, que inscrevem informação apenas numa superfície bidimensional, como acontece, por exemplo, no papel ou nas fitas magnéticas. No caso do cristal 5D, a informação é distribuída ao longo de toda a sua estrutura, garantindo uma preservação a longo prazo incomparável.
Restaurar a humanidade?
O ADN armazenado no cristal contém as instruções genéticas completas de um ser humano. Isso representa um avanço significativo na preservação da nossa herança genética e, potencialmente, de espécies ameaçadas de extinção.
O cristal pode, no futuro, ser utilizado para armazenar o ADN de espécies de plantas e animais em risco, oferecendo a possibilidade de restaurá-las caso os avanços científicos permitam.
Embora a tecnologia atual não permita ainda a criação de seres humanos ou animais a partir de informações genéticas sozinhas, os investigadores acreditam que o cristal 5D poderá ser útil quando essa capacidade for atingida. O professor Peter Kazansky, que liderou a investigação, afirmou que este desenvolvimento abre a porta para que cientistas no futuro possam utilizar este repositório genético para restaurar espécies extintas.
Como funciona o armazenamento no cristal?
O processo de gravação de dados no cristal utiliza lasers ultrarrápidos, que disparam pulsos de luz para o material a velocidades incrivelmente altas. Esses pulsos criam padrões microscópicos dentro do cristal, que podem ser lidos para decifrar as informações armazenadas.
Uma das características mais interessantes deste sistema é a sua longevidade: enquanto métodos tradicionais de armazenamento, como discos rígidos e CDs, podem degradar-se ao longo do tempo, o cristal 5D promete resistir por biliões de anos sem perder a sua integridade.
Além disso, o cristal contém uma chave visual que explica o que está armazenado no seu interior e como as futuras gerações ou inteligências (sejam elas humanas ou artificiais) poderão usar essa informação.
Esta chave inclui os elementos químicos universais (hidrogénio, oxigénio, carbono e azoto) e os quatro blocos de construção do ADN (adenina, citosina, guanina e timina), bem como a estrutura de dupla hélice do ADN e como os genes estão organizados num cromossoma.
Tecnologia para o futuro
Se os avanços científicos no futuro permitirem a utilização desta informação genética, os cristais 5D poderão desempenhar um papel crucial na restauração de espécies extintas ou até na regeneração da humanidade em caso de um evento catastrófico.
A equipa de cientistas já armazenou o cristal num arquivo especial chamado “Memory of Mankind” (Memória da Humanidade), que é mantido numa caverna de sal em Hallstatt, na Áustria, para garantir a sua proteção e preservação.
Além de ser uma solução futurista para a preservação de dados genéticos, os cristais 5D também oferecem uma capacidade de armazenamento impressionante: até 360 terabytes de informação podem ser gravados num único cristal, tornando-o uma ferramenta valiosa para o armazenamento de enormes quantidades de dados.
Novo paradigma?
O avanço tecnológico desenvolvido pelos cientistas britânicos da Universidade de Southampton representa uma mudança de paradigma na forma como armazenamos e preservamos informações genéticas.
O uso de cristais 5D, capazes de durar biliões de anos e resistir a condições extremas, pode ter implicações profundas para a ciência, especialmente no que diz respeito à conservação de espécies e à possibilidade de restaurar a vida no futuro.