Esse estudo apresentou uma nova abordagem que pode ser utilizada para modificar as células e prevenir os efeitos do Alzheimer nelas.
As doenças que afetam o cérebro são consideradas algumas das mais preocupantes. Uma delas é o mal de Alzheimer, uma enfermidade progressiva e sem cura.
Os sintomas do Alzheimer incluem demência, perda de memória, orientação, atenção e linguagem, devido à morte das células cerebrais.
Embora haja conhecimento sobre a doença, ainda existem muitos mistérios a serem desvendados, o que motiva estudos constantes. Um exemplo é a pesquisa realizada pela Universidade Estadual da Pensilvânia, que identificou uma nova maneira de alterar as células para evitar os efeitos do Alzheimer e de outras doenças neurodegenerativas, impedindo a morte dos neurônios.
Até o momento, a maioria dos tratamentos foca nas alterações causadas nos estágios finais da doença. Porém, esse novo estudo concentrou-se em abordar os problemas observados nas fases iniciais que levam ao desenvolvimento do Alzheimer, como o acúmulo da proteína amiloide. Outras doenças como Parkinson e Esclerose Lateral Amiotrófica também foram analisadas.
Células contra o Alzheimer
Na ciência, ainda não há consenso sobre a causa biológica ou o mecanismo de funcionamento do Alzheimer. Um dos fatores que pode influenciar a doença são as moléculas conhecidas como “proteínas de heparam sulfato-modificadas”. Essas proteínas estão presentes na superfície e na matriz das células animais, auxiliando na comunicação celular e na regulação de processos como a autofagia, responsável por limpar componentes celulares danificados ou disfuncionais.
Em diversas doenças neurodegenerativas, incluindo o Alzheimer, a autofagia é comprometida nos estágios iniciais. As proteínas de heparam sulfato-modificadas foram identificadas como inibidoras desse processo. No entanto, ao interromper a atividade dessas proteínas, a autofagia foi restabelecida, permitindo a reparação celular e prevenindo a morte dos neurônios. Esse mesmo processo beneficiou células humanas e de roedores, melhorando as funções mitocondriais e reduzindo o acúmulo de lipídios, ambos relacionados às doenças neurodegenerativas.
Além disso, essas descobertas têm implicação nas mutações da presenilina, associadas ao Alzheimer precoce. Quando não há mutações, a manifestação da doença é atrasada em décadas, algo anteriormente considerado possível apenas por fatores genéticos.
Esses resultados indicam que a modificação das proteínas de heparam sulfato-modificadas pode contribuir para a desaceleração do progresso do Alzheimer, abrindo caminho para o desenvolvimento de medicamentos capazes de atingir esse objetivo.
Variantes
O Alzheimer ainda é uma doença complexa e misteriosa, o que motiva a realização de diversos estudos para compreendê-la melhor. Uma pesquisa recente identificou cinco variantes biológicas diferentes da doença, que parecem influenciar a maneira como o cérebro é afetado e como responde ao tratamento.
Os pesquisadores analisaram as proteínas presentes no líquido cefalorraquidiano de 606 indivíduos. Segundo eles, isso sugere que os medicamentos testados anteriormente, apesar de aparentemente ineficazes, podem ter sido avaliados de maneira inadequada.
Essa descoberta pode resultar em terapias mais personalizadas e medidas preventivas específicas para cada subtipo da doença, além de possibilitar um diagnóstico precoce com intervenção para retardar os sintomas do Alzheimer.
“Dado os distintos padrões de processos moleculares e perfis genéticos de risco do Alzheimer, é provável que os subtipos exijam tratamentos específicos”, afirmou a neurocientista Betty Tijms, do Alzheimer Center Amsterdam, juntamente com seus colegas.
A doença de Alzheimer é caracterizada pelo acúmulo de proteínas amiloides e tau no cérebro, resultando em perda progressiva de memória. Além disso, outros processos biológicos em diversos tecidos também estão envolvidos. A utilização da tecnologia atual permitiu a análise precisa dos componentes essenciais desses processos.
Tijms e seus colegas utilizaram a proteômica de espectrometria de massa para analisar o líquido cefalorraquidiano de 419 pacientes com Alzheimer e 187 do grupo de controle. A partir disso, identificaram 1.058 proteínas associadas ao Alzheimer para uma análise mais detalhada.
Como resultado, identificaram os cinco subtipos da doença, cada um caracterizado por variações como hiperplasticidade, ativação imunológica, desregulação do RNA, disfunção do plexo coroide e comprometimento da barreira sanguínea. Cada variação foi marcada por mudanças específicas em grupos de proteínas relacionadas com inflamação, crescimento de células nervosas e outros processos biológicos.
Subtipos
A identificação desses biomarcadores para cada subtipo pode aprimorar o diagnóstico precoce do Alzheimer, momento em que a intervenção é mais eficaz.
Adicionalmente, os pesquisadores compararam os subtipos com diferenças de volume em áreas específicas do cérebro em ressonâncias magnéticas de um subgrupo de 503 participantes.
“Os subtipos apresentaram diferentes perfis de risco genético para o Alzheimer. Também mostraram diferenças em desfechos clínicos, tempo de sobrevida e padrões de atrofia cerebral”, destacaram os pesquisadores.
“Os efeitos adversos de determinados tratamentos podem também depender do subtipo. Por exemplo, embora os anticorpos possam penetrar facilmente na barreira sanguínea no subtipo 5, esses indivíduos podem apresentar maior risco de hemorragia cerebral associado ao tratamento com anticorpos”, concluíram.
Apesar das descobertas promissoras, mais estudos são necessários para validar esses resultados e avaliar a resposta dos distintos subtipos aos tratamentos.
Fonte: Canaltech, Science alert
Imagens: Canaltech