Atol Diego Garcia é alvo de enigmas há 6 décadas.

A ilha Diego Garcia é palco de uma das maiores disputas entre Reino Unido e EUA, além dos mistérios que envolvem as atividades nela.

A ilha Diego Garcia, considerada uma das mais remotas do mundo, está no centro de uma história intrigante e perturbadora.

Em 2021, um grupo de tâmeis que fugiu do Sri Lanka em busca de asilo no Canadá foi resgatado pela marinha britânica enquanto seu barco estava à beira de naufragar.

No entanto, o que parecia um ato de salvação se transformou em um pesadelo para os tâmeis, que estão detidos há três anos em Diego Garcia, uma ilha paradisíaca marcada por uma história sombria.

Ilha Diego Garcia

Via Advisor

Localizada no meio do Oceano Índico, entre a costa leste da África e a costa oeste da Indonésia, a ilha Diego Garcia fazia parte do Arquipélago de Chagos.

No século XVIII, foi colonizada pelos franceses como um assentamento agrícola. Os colonizadores trouxeram os chagossianos, descendentes de escravos africanos e indianos, para trabalharem nas plantações de coqueiros, cuja principal produção era a copra (carne seca de coco).

Com o tempo, os habitantes desenvolveram sua própria cultura e um dialeto chamado crioulo chagossiano.

Em 1814, após a derrota de Napoleão, a ilha passou ao controle britânico como parte do Tratado de Paris, tornando-se parte da colônia das Ilhas Maurício.

Durante o século XIX, a ilha manteve uma pequena população dedicada à agricultura e pesca, mas o século XX traria mudanças drásticas. No final da década de 1960, em plena Guerra Fria, a história de Diego Garcia mudou para sempre.

Disputa

A localização estratégica da ilha entre a África e a Ásia chamou a atenção dos Estados Unidos e do Reino Unido, que firmaram um acordo. Ambas as nações viam Diego Garcia como ideal para uma base militar no Oceano Índico.

Em 1965, o Reino Unido separou o Arquipélago de Chagos das Ilhas Maurício, formando o Território Britânico do Oceano Índico (BIOT), que incluía também as outras 57 ilhas do arquipélago.

Um ano depois, em 1966, os britânicos assinaram um acordo secreto com os Estados Unidos, permitindo a construção da base militar.

Entre 1968 e 1973, os chagossianos, habitantes nativos de Diego Garcia, foram expulsos em massa da ilha. O despejo, realizado para viabilizar a construção da base militar, resultou no deslocamento da população para as Ilhas Maurício e Seicheles, com numerosos relatos de violações de direitos humanos.

A ilha foi arrendada aos Estados Unidos até 2036 para uso como base militar.

Uma base militar e muito sigilo

No início da década de 1970, iniciaram os trabalhos para a construção da base naval e aérea dos Estados Unidos na ilha Diego Garcia.

Desde então, essa base se tornou um ponto estratégico para operações militares americanas no Golfo Pérsico, no Afeganistão e no Iraque.

Durante a Guerra do Golfo em 1991 e a Guerra do Afeganistão em 2001, essas ilhas mais remotas do mundo serviram como plataforma para missões de bombardeio e reabastecimento.

Nesse período, também surgiram investigações sobre operações secretas, incluindo alegações de que Diego Garcia foi utilizado como local de detenção clandestino pela CIA após os ataques de 11 de setembro de 2001.

Apesar disso, a ilha é oficialmente administrada pelo Ministério das Relações Exteriores, Commonwealth e Desenvolvimento (FCDO) em Londres.

Constitucionalmente, ela está separada do Reino Unido, que arrenda a ilha para os Estados Unidos, que mantêm cerca de 5.000 militares ali.

Direito de regresso

Desde a expulsão dos chagossianos, a luta jurídica e política pelo seu retorno se tornou incessante. Em 2000, o Supremo Tribunal do Reino Unido decidiu a favor dos chagossianos, concedendo-lhes o direito de voltar.

Contudo, essa decisão foi revertida em 2004, quando o governo britânico bloqueou o retorno sob a justificativa de “razões de segurança”.

Em 2019, o Tribunal Internacional de Justiça decidiu que era ilegal a ocupação britânica nas Ilhas Chagos. Assim, intensificou a pressão internacional para que o Reino Unido devolvesse as ilhas às Maurícias.

No início deste mês de outubro, surgiram notícias que o Reino Unido concordou em devolver o Arquipélago de Chagos às Ilhas Maurício, mas com as conhecidas “letras miúdas” no “rodapé do contrato”.

Os britânicos anunciaram que transfeririam a soberania das ilhas, encerrando décadas de negociações.

No entanto, a base militar americana-britânica permanecerá na ilha Diego Garcia, possivelmente o elemento crucial que permitiu ao Reino Unido “ceder” o arquipélago, mas não a base.

Acordo


Via Wikimedia

Embora a assinatura do tratado ainda seja necessária, parece que finalmente há um acordo.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, explica que esse momento é decisivo na relação e no compromisso com o Estado de direito. Por isso, toda a equipe quer garantir uma operação segura, eficaz e de longo prazo da base existente em Diego Garcia. Eles reforçam que ela desempenha um papel fundamental na segurança regional e global.

Após mais de 50 anos desde que os britânicos os expulsaram de suas terras para “alugar” sua maior ilha aos Estados Unidos (para propósitos que permanecem incertos e talvez nunca sejam totalmente esclarecidos), os chagossianos agora têm permissão para retornar.

Contudo, isso não inclui Diego Garcia. Embora os chagossianos possam voltar ao arquipélago, o Reino Unido assegurou o funcionamento da base em Diego Garcia por “um período inicial” de 99 anos.

O lado escondido do “paraíso”

No entanto, há três anos, os náufragos vindos do Sri Lanka vivem em tendas e cercas na ilha Diego Garcia.

Enquanto os militares desfrutam de boas condições, com festas em boates e clubes que oferecem piscinas, quadras de tênis e outras comodidades, os náufragos enfrentam uma realidade insalubre.

Desde outubro de 2021, os 60 tâmeis residem em um acampamento cercado por ratos e insetos, em tendas que se alagam durante a chuva.

A dura vida desses refugiados não parece estar perto de melhorar, e eles não têm ideia de quando poderão deixar a ilha ou para onde irão.

Fonte: IGN

Imagens: Advisor, Wikimedia

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